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NOTÍCIAS

FELÍCIO ROCHO

Diálise da Vida
08 de junho de 2024 Eventos

Com uma linguagem reflexiva, mas simples e afetiva, o paciente de hemodiálise do Hospital Felício Rocho, Sandro Aloisio Matilde, atualmente professor do Cefet-MG, lançou no dia 29 de maio, uma segunda-feira, no auditório deste hospital o livro por ele escrito intitulado “Diálise da Vida” publicado pela Editora Recalete (SP), um conjunto de reflexões de alguém que há alguns anos vem se submetendo ao tratamento de hemodiálise desde que descobriu ser portador de insuficiência renal.

Em suas 85 páginas o autor sintetiza um conjunto de reflexões tanto sobre o cotidiano da vida quanto sobre o tratamento de hemodiálise a que é instado a se submeter três vezes por semana no Hospital Felício Rocho.

No livro ele conta a sua experiência sobre este tratamento a que se submete três vezes por semana através de um relato sensível sobre a vida o qual vem acompanhado de poesia e de sabedoria onde aloja muitas das suas reflexões sobre a vida. E, nesta caminhada, ele não esquece dos seus entes amados envolvidos, direta ou indiretamente, com o seu tratamento de hemodiálise que acontece todas as terças, quintas e sábados.

Mas entre uma e outra sessão deste tratamento e ao largo da vida ele não se esquece do apoio constante dos seus amigos e familiares ou de outras pessoas que o apoiam ou que, em algum momento, se dispuseram a doar um rim para ele de modo que pudesse fazer um transplante renal.

E entre uma e outra reflexão ele nos mostra de como é a vida de alguém que tem de se conectar a uma máquina três vezes por semana e de como dela depende para continuar vivendo. Nestas condições ele nos conta de como durante as quatro horas em que dura cada sessão de hemodiálise ele consegue ver o mundo mais devagar constatar que, além daquela máquina, ele depende também da sua força de vontade para manter a perseverança, a coragem e a fé nele mesmo e no mundo, tal como escreveu no prefácio do livro o coordenador técnico da Enfermagem do Setor de Diálise do Hospital Felício Rocho, Hamilton de Freitas Costa, uma figura simpática e de sorriso largo que, ao longo dos anos, convive com as dezenas de pacientes que compõe este setor.

E, esperançosamente, Hamilton, ao final deste prefácio, nos diz que “O tratamento hemodialítico não é o fim, pelo contrário, é a continuidade”, no que Sandro, o autor do livro, concorda e testemunha ao longo das 85 páginas do seu livro.

 

                                                                                                                                                                                             Escrito por Valdir de Castro Oliveira - Jornalista/Paciente do Hospital Felício Rocho

 

Diálise da Vida

O cotidiano do paciente de hemodiálise

Embora a maior parte das reflexões feitas por Sandro ao longo deste livro sejam formas de testemunho que expõe a sua sensibilidade diante da vida, em muitas passagens ele descreve o que é o dia-a-dia de um (a) paciente de hemodiálise: “Vejo o fluxo de sangue indo e vindo naqueles capilares como se fossem minha vida entrando e saindo de mim. Me lembro do seu sorriso, dos teus beijos, do seu abraço (pág. 17).

E conta também das suas ansiosas esperas por um telefonema anunciando um possível transplante de rim: “A angústia não era solidária, mas sim coletiva, todos estavam à espera de que, numa noite, num dia ou até mesmo de madrugada o telefone tocasse e, do outro lado da linha, alguém interrompesse o mórbido e frio silêncio e anunciasse par que as malas fossem preparadas e o hospital fosse procurado, pois, enfim, à espera do sonhado órgão (para transplante) acabou” (pág. 23).

Mas a rotina da hemodiálise é também por ele lembrada: “Um bom dia seria o dia em que os capilares e os filtros funcionassem bem, e as agulhas na fístula não fossem tão dolorosas ou, quem sabe, que as queda de pressão não existissem, que a cabeça não doesse e que as náuseas não ocorressem”.

Isto me faz lembrar também que que diante desses e de outros desconfortos que acometem os pacientes durante as sessões de hemodiálise sempre contamos com a providencial ajuda dos anjos azuis que nos acompanham durante as sessões e que são os primeiros a se debruçarem sobre nós quando passamos mal diante de alguma intercorrência. São os (as) auxiliares de enfermagem que, com seus uniformes azuis, nos prestam os primeiros socorros até que venha um outro anjo vestido de branco a providenciar outros cuidados ao paciente.

São nestas condições que que os pacientes de hemodiálise, sentados em suas cadeiras, percebem a dor, a angústia e o colorido que compõe o ambiente da hemodiálise: “De minha cadeira vejo um desfile de pessoas vestidas com uniformes de várias cores: azuis, verdes, brancos, marrons e vinho” e, esperançosamente, é também da minha cadeira que “vejo tudo isso, na esperança de que, um dia, tudo isso acabe e que as cicatrizes que vão ficar sejam apenas as marcas de alguém que não desistiu da vida e resolveu lutar” (p. 33).

E quanto ao tão esperado transplante renal, ele nos lembra “que não se trata apenas de um rim, mas de um pedaço de amor transportado de um ser para outro ser” e que “Não foi apenas um rim, foi o órgão de uma gentil alma que transformou sua morte no maior ato de humanidade que alguém pode oferecer. Perpetuar a vida em outra vida” (Pág. 69).

E, finalmente, ele nos diz que se semana tem sete dias, nela vive duas vidas, com dias melhores e piores. A vida de terça-feira, quinta-feira e sábado e a vida do restante da semana.

Na primeira a vida corre solta, leve e muito prazerosa onde podem caber muitos sonhos.

Mas na segunda vida “que acontece terça, quinta e sábado, ela é presa, triste e me traz muita dor, são horas e horas naquela cadeira frias, inerte, são horas de angústia, dor e muita reflexão” (Pág. 79).

E, ao longo dessas diálises da vida, no final do livro, ele conclui que, ao chegar ao hospital olhou para a máquina, e ela sorriu para ele, “afinal já erámos velhos companheiros de sangue e de propósitos:

E diante disso, neste dia, percebeu que aquela máquina não dialisava apenas glicose, potássio, fósforo e sódio. Tampouco que ela era apenas uma redutora da creatinina e de ureia, mas que fazia também uma diálise de sua própria vida.

Ou seja, para ele, essa “máquina filtrava também o orgulho, o preconceito, a vaidade, enfim, tudo aquilo que precisa ficar para trás”. (pág. 81).